quarta-feira, 7 de abril de 2010

Colhendo Músicas - Especial Eurovision

No próximo dia 29 de maio, diretamente de Oslo na Noruega, será transmitido ao vivo para mais de 40 países no mundo a final de uma competição que parará a Europa. Não, não estou falando de nenhum campeonato de futebol, mas sim do festival internacional de música mais tradicional do mundo, o Eurovision. Chegando agora em sua edição de número 55, este festival, que é desconhecido pela maior parte do público brasileiro, ocorre no mês de maio, tendo normalmente por sede um país diferente a cada ano. Durante seus três dias de competição, é acompanhado atentamente por telespectadores de toda a Europa e alguns países vizinhos. Neste ano, 39 países enviarão artistas do mais diferentes estilos para representá-los na competição. Voltando a analogia do futebol, podemos dizer que essa é a Champions League (Liga dos Campeões da Europa) do mundo da música. Com a diferença de que quem escolhe o campeão no Eurovision é o público.
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E qual a importância desse festival para o mundo? O Eurovision pode ser um ilustre desconhecido nas Américas, mas ao longo dos anos este festival influenciou e revolucionou o mundo da televisão, do entretenimento e da música não só na Europa, mas no mundo inteiro. E até mesmo aqui no Brasil, certos programas de televisão que hoje são ícones históricos da nossa cultura devem sua existência à influência do Eurovision. Artistas que acabariam por tornarem-se mundialmente famosos surgiram no Eurovision. Até mesmo revoluções foram iniciadas com canções apresentadas nesse festival e conflitos políticos de certos países foram levados ao centro das atenções através do programa.
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Você pode não saber, mas certamente o Eurovision, de uma forma direta ou indireta, já esteve ou está presente na sua vida e também influenciou você. Coloco aqui um histórico com os acontecimentos mais interessantes envolvendo artistas e países que tiveram sua história mudada pela sua participação nesse festival.
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1956
Numa Europa em reconstrução e ainda traumatizada pela guerra, de dentro da EBU (European Broadcasting Union) - órgão regularizador das emissoras européias de rádio e televisão - surge a idéia de tentar integrar e aumentar o entendimento entre os países do continente através da música com a realização de um grande evento que propiciasse não só a participação, mas também a interação entre seus membros. É então criado o "Grande Prêmio Eurovisão da Música Européia", ou como ele viria a ser chamado posteriormente, Eurovision. Em sua primeira edição, realizada na cidade suiça de Lugano, houve a participação de 14 países e o grande vencedor foi o país sede com sua representante Lys Assia que participou com a música "Refrain".
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1958
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A terceira edição do festival foi realizada na Holanda e contou com a participação de 10 países. Um fato interessante chamou a atenção nessa edição. Um então desconhecido cantor chamado Domenico Modugno foi enviado ao festival para representar a Itália. Ele conquistou uma boa posição terminando o festival em terceiro lugar com sua canção "Nel Blu Dipinto Di Blu". Nesse mesmo ano, após o relativo sucesso no Eurovision, ele foi levado por um empresário aos Estados Unidos. Por lá, renomearam sua canção para "Volare", a distribuiram por entre as rádios do país e o resultado foi que, no ano seguinte, na primeira edição do Grammy Awards, ele acaba por levar os prêmios de Canção e Disco do Ano. Do vencedor do Eurovision desse mesmo ano, o francês André Claveau, nunca mais se teve notícias, mas o cantor italiano ganhou fama nos Estados Unidos e conquistou um relativo sucesso tendo músicas regravadas até mesmo por Elvis Presley.
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1964

Este ano marca a estréia de Portugal no festival. A rede portuguesa RTP fecha um acordo de transmissão com a EBU e, para apontar seu representante ao Eurovision, promove em solo português o primeiro Festival da Canção. Antônio Calvário com a música "Oração" é o grande vencedor do festival português e leva consigo a esperança de seu povo na obtenção de uma boa classificação no festival continental. Resultado: Portugal entra para a história do Eurovision como o primeiro país a estrear no festival obtendo a nota zero de todos os jurados.
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1965

No ano anterior Portugal havia estreado com grande êxito seu primeiro Festival da Canção. Isso chama a atenção dos executivos da TV Excelsior no Brasil que então, baseados nos moldes de sucesso dos festivais europeus associados ao Eurovision, lançam o I Festival de Música Popular Brasileira. É assim inaugurada a epoca de ouro dos grandes festivais de música no Brasil que nos anos seguintes viriam a ser produzidos pela TV Record e pela TV Globo. Logo de cara, esse festival inaugural consagra, ninguém mais, ninguém menos, do que a jovem Elis Regina que cantou a música "Arrastão" de Edu Lobo e Vinícius de Moraes. A música popular brasileira nunca mais seria a mesma depois dos "grandes festivais" que haveriam de revelar dezenas de ícones consagrados da nossa música.
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1966

Sediado por Luxemburgo, o festival desse ano ocorre com a inclusão de uma nova regra. Por conta de uma polêmica criada no ano anterior quando o representante sueco Ingvar Wixell participou com uma canção em inglês "Absent Friend", foi estabelecida a regra de que um artista somente poderia cantar na língua oficial do país o qual ele estivesse representando. 1966 também marca a aparição da primeira artista negra na história da competição, Milly Scott que representou a Holanda cantando "Fernando en Filippo" que terminou na posição número 15 (de 18 participantes).

1967

Numa época politicamente turbulenta para alguns países europeus, mas principalmente para Espanha e Portugal que estavam sob duros regimes ditatoriais, o Eurovision torna-se palco de certo ativismo e de uma certa propaganda política. Após enfrentar acusações de que teria um comportamente racista e desumano perante a população das colônias portuguesas na África que estavam se rebelando contra o governo, rumores dão conta de que o ditador português Antônio Salazar teria escolhido a dedo o representante português para o Eurovision de 1967. O escolhido foi o angolano Eduardo Nascimento que representou Portugal com a música "O Vento Mudou" que terminou em 12o lugar. Apesar de alegadamente ser um fantoche de uma propaganda salazarista, o cantor angolano entra para a história como sendo o primeiro homem negro a participar do festival.

1969

Chegando pela primeira vez na Espanha, o festival teve um colaborador muito especial. Salvador Dali foi chamado para realizar a produção artística e publicitária do evento. E foi somente nessa sua 14a edição que, pela primeira vez, houve um empate pelo 1o lugar entre quatro países: França, Holanda, Reino Unido e Espanha. Como não havia critério de desempate, os quatro países levaram o prêmio de 1o lugar gerando um certo mal estar entre os ganhadores já que não havia medalhas o suficiente para todos. Dentre os vencedores, representando o Reino Unido, estava a já conhecida mundialmente, Lulu.

A polêmica participação de Lulu - Após o enorme sucesso do filme "To Sir With Love" (Ao Mestre com Carinho) de 1967 no qual Lulu foi protagonista e também intérprete da canção tema do filme, ela retorna a Inglaterra para ser anfitriã de seu próprio programa de tv entitulado "Happening With Lulu". A convite de um dos diretores da BBC, Bill Cotton, Lulu é indicada para ser a representante inglesa no Eurovision daquele ano e inicia junto aos telespectadores de seu programa um concurso para eleger uma de seis músicas indicadas e cantadas por ela para ser a canção que representaria o Reino Unido naquele ano. Os telespectadores deveriam mandar cartões postais com seus votos. Dentre as canções havia inclusive uma de autoria de Elton John com Bernie Taupin, "I Can't Go On Living Without You". Mas a vencedora foi "Boom Bang-a-Bang" de Peter Warne e Alan Moorhouse. Em 1989, em uma conversa com o DJ John Peel, Lulu causou uma grande controvérsia na mídia inglesa ao fazer a seguinte declaração sobre a música com que ganhou o primeiro Eurovision para o Reino Unido: "Eu sei que é uma canção podre, mas eu ganhei, então quem liga? Eu cantaria "Baa, Baa, Black Sheep" de cabeça para baixo se isso fosse necessário para ganhar." Outro fato interessante sobre Lulu é que uma semana antes de sua aparição no Eurovision, ela casou-se com Maurice Gibb dos Bee Gees de quem divorciou-se em 1973.

1970
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Devido às polêmicas geradas pelo empate de quatro participantes no ano anterior, somente 12 países enviaram seus representantes para a Holanda nesse ano. Isso obrigou os produtores a incluírem uma sequência de abertura extendida e também um pequeno filme "cartão postal" de cada país antes da apresentação de seu representante. Esse acabou por consolidar-se no formato de introdução que é seguido até hoje. Dentre os participantes estavam alguns artistas já estabelecidos no meio musical como a galesa Mary Hopkin que já ostentava um hit número 1 em sua carreira. E foi nessa histórica edição que um então desconhecido Julio Iglesias foi selecionado para representar a Espanha e realizou sua primeira performance internacional com a música "Gwendolyne". A vencedora, no entanto, foi a representante da Irlanda, Dana (de apenas 18 anos) com a música que viria a se tornar o grande hit pop do ano na Europa, "All Kinds Of Everything". Num ensaio à transmissão da Copa do Mundo daquele ano, o festival foi transmitido ao vivo pela primeira vez via satélite para o Brasil.
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Mary Hopkin e uma derrota inesperada - Mary Hopkin foi uma das primeiras artistas a assinar com o selo Apple dos Beatles em 1968. O fruto dessa parceria resulta no segundo single lançado pelo selo (APPLE 2), "Those Were The Days". O single produzido por Paul McCartney tornou-se hit número 1 nas paradas inglesas e número 2 na Bilboard norte-americana. A já famosa cantora que veio do País de Gales defender as cores do Reino Unido no Eurovision era tido antecipadamente como a franca favorita ao título do ano de 1970 com a música "Knock Knock, Who's There?". Sua inesperada derrota para a jovem revelação Dana, pegou de surpresa os confiantes ingleses que, no entanto, aceitram bem o fato pela vencedora ser irlandesa.
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1973

A edição desse ano em Luxemburgo foi uma das mais conturbadas da década de 1970 e foi marcada por uma série de polêmicas. Nesse ano a regra de que cada país deveria apresentar canções somente em sua língua pátria é abolida. Utilizando-se da nova regra, o conjunto sueco Nova & The Dolls canta "You're Summer" que causou certo mal estar em alguns países mais conservadores pela música conter a palavra "breasts" (seios) em sua letra. Os representantes espanhóis, o conjunto Mocedades, foram acusados de terem plageado sua música "Eres Tú" de uma canção iugoslava entitulada "Brez besed" cantada por Berta Ambroz no Eurovision de 1966. E para finalizar com a sessão das controvérsias, a música portuguesa "Tourada" cantada por Fernando Tordo também causou polêmica por ter um forte teor político contra o regime ditatorial que assolava Portugal na época. Em meio a tantas discussões, a cantora francesa que estava representando os anfitriões, Anne-Marie David, acabou vencendo o festival com a nada controversa música "Tu Te Reconnaitras".
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1974

A 19a edição do Eurovision acabou por entrar para a história da música por ter apresentado a então desconhecida banda Abba ao mundo. Os suecos apresentaram a música "Waterloo" e venceram com uma percentagem recorde de votos. O evento desse ano também foi marcado pela participação de Olivia Newton-John representando a Inglaterra com a música "Long Live Love". A estrela inglesa chegou com excelentes credenciais por ter conquistado no ano anterior o Grammy de Melhor Vocalista Country com a música "Let Me Be There", mas não obteve o mesmo sucesso em solo europeu e ficou somente com a 4a posição. No âmbito político, a França retirou sua representante Dani na última hora por conta do falecimento de seu presidente Georges Pompidou cujo funeral ocorreria no mesmo dia da competição. A televisão estatal italiana RAI boicotou o evento, não realizando a sua transmissão para a Itália por conta de uma polêmica entre a música "Si" de sua representante Gigliola Cinquentti que, segundo alguns censores, apresentava uma mensagem subliminar de apoio a um referendo sobre o divórcio que seria votado pelo povo italiano no mês seguinte. Gigliola, no entanto, mesmo sem o apoio da mídia de seu próprio país, acabou conquistando um honroso segundo lugar, perdendo somente para o insuperável fenônemo sueco, Abba.
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Eurovision e a Revolução dos Cravos - no dia 6 de abril de 1974, durante a final do Eurovision daquele ano, o representante português Paulo de Carvalho canta ao mundo a música "E Depois do Adeus". 18 dias depois, às 22:55 do dia 24 de abril, esta canção é novamente transmitida, só que agora para o território português através da rede Emissores Associados de Lisboa. Não haveria nada de anormal nisso se este não fosse o primeiro sinal secreto combinado pelos militares portugueses junto aos capitães e soldados rebeldes para que fosse dado início às movimentações para o derradeiro golpe contra o regime autoritário do Estado Novo. Um segundo sinal havia sido estabelecido e, nos primeiros minutos do dia 25 de abril, às 00:20, quando a Rádio Renascença coloca no ar "Grândola, Vila Morena" de Zeca Afonso, membros do MFA (Movimento das Forças Armadas) e outros grupos associados tomam pontos estratégicos de poder ao redor do país e é finalmente deflagrada a tomada definitiva do poder. A Revolução dos Cravos tomou assim Portugal, primeiro pelas vias de transmissão dos rádios e então pelas ruas com um enorme apoio popular. No Eurovision do ano seguinte realizado na Suécia o então representante português Duarte Mendes, que cantaria uma canção em homenagem à Revolução dos Cravos entitulada "Madrugada", teve de ser dissuadido por membros do evento e colegas músicos de entrar no palco vestido com a farda militar que este havia usado na revolução do ano anterior acompanhado de sua devida arma.
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1975/76


A política volta a ter um papel de destaque no Eurovision nas respectivas edições de 1975 e 1976. No verão de 1974 forças turcas invadiram a parte norte da ilha de Chipre que desde 1967 estava sob o comando de uma junta militar grega. Isso faz com que os gregos se retirem do Eurovision de 1975. No ano seguinte, eles retornam à competição com Mariza Koch apresentando uma música controversa entitulada "Panayia Mou, Panayia Mou" (cuja versão em inglês recebeu o título de "The Death of Cyprus", ou "A Morte do Chipre") sobre a ocupação turca na ilha. Então é a vez da Turquia retirar seu representante da competição em protesto. Os dois países só voltariam a participar juntos de uma mesma versão do evento em 1978 e finalmente apareceriam juntos com a estréia do representante independente do Chipre em 1981.
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Anos 1980
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A década de 1980 foi politica e economicamente complicada para a Europa e isso também foi sentido no Eurovision. Com o continente envolto em crises políticas de leste a oeste o festival sofre com a falta de patrocínio, a competição perde um pouco de seu brilho e, inclusive, sofre com uma escassez de talentos. A prova disso se dá imediatamente no ano de 1981 quando sagram-se campeões os ingleses do Bucks Fizz com a música "Making Your Mind Up", uma música no melhor estilo "Partridge Family" (Família Dó-Ré-Mi). A decadência prossegue e em 1984 é a vez dos Menudos suecos do Herreys conquistarem o primeiro lugar com a música "Diggi-Loo, Diggi-Ley". A competição só dá mostras de uma recuperação qualitativa no ano de 1988 quando uma jovem franco-canadense chamada Celine Dion (então com seus 20 anos) representa a Suiça com a música "Ne Partez Pas Sans Moi" e ganha o primeiro lugar. Desconhecida até então pelo resto do mundo não francofono, no ano seguinte ela voltaria ao evento para cantar na abertura sua primeira canção em inglês "Where Does My Heart Beat Now" que em 1990 acabaria por tornar-se um hit nas paradas norte-americanas e efetivamente lançá-la ao estrelato mundial.
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1995
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Quebrando uma sequência de 3 anos de vitórias irlandesas, em 1995 a banda norueguesa Secret Garden vence a competição com sua música "Nocturne". Foi a primeira vez que uma música quase que totalmente instrumental e de um estilo que fugia ao habitual pop venceu a competição. Essa ousada aposta acabou por abrir as portas do festival para artistas que se dedicavam ao folk ou à música tradicional de seus respectivos países. A barreira do amplamente genérico pop foi assim quebrada. No ano seguinte, a Irlanda apostaria num estilo semelhante e indicaria a banda Eimear Quinn para o festival. E com a música "The Voice", conquistariam o sétimo título do festival para a Irlanda.
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1997
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Esse ano marcaria um inesperado retorno de uma banda que conquistou certa fama na década de 1980, mas há muito havia sido esquecida, Katrina & The Waves. No ano de 1985 a banda conquistou fama mundial com o hit "Walking on Sunshine" pelo qual concorreram ao Grammy do mesmo ano na categoria "Revelação do Ano". Pouco tempo depois a banda acaba por sair debaixo das luzes dos holofotes e prosseguem com suas carreiras com esparsos lançamentos de novo material. Então em 1997 a originalmente norte-americana Katrina Leskanich junta novamente seus Waves e partem para a disputa do Eurovision defendendo o Reino Unido com a música "Love Shine a Light". Contra todas as expectativas, eles vencem o campeonato com uma música que tornou-se um hit no Reino Unido somente para no ano seguinte se separarem definitivamente após desentendimentos entre Katrina e o resto da banda.
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1998
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Com a competição voltando a ser sediada pelo Reino Unido após 17 anos, esse foi um ano divisor de águas entre o formato tradicional da competição e o modelo que perdura até os dias de hoje. Este foi o último ano em que houve a presença de uma orquestra fixa para realizar o acompanhamento musical dos artistas e também foi o último ano em que se aplicou a restrição de que cada país poderia apresentar somente canções em sua língua oficial. A maior inovação, no entanto, veio com um novo sistema da votação. Agora não haveria mais um corpo de jurados responsáveis pela atribuição dos votos de cada país, mas a responsabilidade passaria a ser dos próprios telespectadores. É inaugurado assim o sistema de televotação em que cada país forneceria números de telefones específicos para que sua população pudesse votar em seus artistas favoritos. Ao final do evento, esses números seriam localmente apurados e divulgados ao vivo para todo o continente pelos anfitriões das emissoras de televisão de cada país. Outro fato interessante sobre a competição desse ano foi a vitória da representante de Israel, Dana International, interpretando a música "Diva". O curioso não é o fato de um país não-europeu ter conquistado a vitória, uma vez que que Israel participava da competição desde 1973 e já havia ganho em duas ocasiões anteriores. O interessante é que até o ano de 1993 a cantora Dana era na verdade um homem e, naquele ano, passou por uma cirurgia de mudança de sexo. Assim ela passa a ser a primeira (e até hoje única) transsexual a participar e ganhar um Eurovision.
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O revolucionário sistema de televoto - esse sistema, desenvolvido para que houvesse uma maior participação popular no Eurovision e, por consequinte, um aumento de audiência e de interesse na competição, inaugura uma nova era na televisão mundial. Foi tão somente graças a esse novo sistema que programas como o Big Brother, o American Idol (Ídolos) e toda a sorte (ou azar) de programas similares baseados na participação efetiva dos telespectadores nas votações via telefone ou SMS puderam ser desenvolvidos. Logo em 1999 a rede holandesa Veronica TV coloca no ar a primeira edição do Big Brother. Em 2001 é a vez da rede britânica ITV inaugurar seu Pop Idol para, imediatamente no ano seguinte, a rede norte-americana FOX estrear o American Idol.
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Anos 2000
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Ao longo dos anos 2000 a competição atingiu um novo patamar de popularidade por toda a Europa sendo agora transmitida para mais de 30 países que anualmente indicam artistas que tenham vencido suas respectivas seletivas nacionais para participar do grande evento principal. Muitos países apostam na fórmula do pop cantado em inglês para tentar garantir seu sucesso, mas ao longo dos últimos anos, até mesmo pela enorme diversidade cultural do continente, artistas dos mais diversos estilos e nacionalidades venceram a competição. Em 2001, os estonianos da boyband 2XL e o rockeiro Tanel Padar uniram forças com o cantor arubenho Dave Benton e apresentaram um (nada típico) rock swingado no melhor estilo Tom Jones entitulado "Everybody" e levaram o primeiro lugar para a Estônia. Em 2003 a Turquia ganhou seu primeiro Eurovision com o turkish-pop "Everyway That I Can" interpretada pela cantora Sertab Erener. Isso evidencia a força que os imigrantes tem na votação sendo que a Turquia passa a receber votos máximos de países como a Alemanha onde há a maior concentração de turcos na Europa ocidental. No ano seguinte, novamente uma música pop voltou a vencer, só que agora com a fusão de elementos regionais folclóricos. Dessa vez a vencedora foi a ucraniana Ruslana com a música que virou hit na Europa inteira, "Wild Dances". Sua performance ao vivo contagiou o continente e fez de Ruslana um imediato fenômeno pop. 2006 marcou o ano em que pela primeira vez uma banda de hard rock venceu o festival. Os "monstros" finlandeses da banda Lordi surpreenderam a crítica conquistando o público com performances contagiantes e deram à Finlândia seu primeiro título em 45 anos de participações com a música "Hard Rock Hallelujah". Em sua edição mais recente em 2009, novamente uma música pop com influências folk voltou a ser destaque e Alexander Rybak leva para a Noruega o primeiro lugar com sua canção "Fairytale".



Este ano, as semi-finais do Eurovision irão ao ar nos dias 25 e 27 de maio. A grande final acontecerá no dia 29 de maio. Infelizmente a competição não é transmitida para o Brasil, restando aos interssados em assistí-lo somente a possibilidade de fazê-lo via internet através dos websites de alguma das emissoras oficiais do evento. Para saber mais sobre o festival e assistir a vídeos dos concorrentes desse ano, acesse o site oficial do Eurovision: http://www.eurovision.tv/

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terça-feira, 30 de março de 2010

Colhendo Pensamentos Orwellianos

Por mais que eu tente, vivo sempre à sombra do espectro de um jornalista e escritor que, de uma forma ou outra, acaba por me inspirar em quase todos os projetos a que me dedico. Mesmo quando estou há tempos sem nenhuma reflexão relacionada a este meu mestre, quando menos espero, lá aparece ele de soslaio fazendo-me lembrar que os grandes gênios não dormem jamais em nossa realidade. Caminhando por uma livraria nesses dias, deparei-me com um "lançamento", o livro "O Caminho Para Wigan Pier" de 1937 escrito por Eric Arthur Blair ou, como ele veio a ficar conhecido em todo o mundo, George Orwell. Não sei há quanto tempo esse livro ficou fora das prateleiras brasileiras desde sua última reedição, mas de algum tempo para cá a Companhia das Letras vem se empenhando em lançar uma série de livros da obra de Orwell que poucas vezes encontrei disponíveis fora de sebos. É de se esperar que encontremos em absolutamente qualquer livraria suas duas obras máximas, "1984" e "A Revolução dos Bichos", mas particularmente sempre achei uma grande lástima que sua grande trilogia de livros documentais fosse sempre relegada e esquecida pelas editoras.

Como coinscidência pouca é bobagem, no mesmo dia em que estava nessa livraria, fui folhear a revista Piauí (no: 42) e me deparei com uma reportagem "De Uma Classe a Outra" do jornalista Mario Sérgio Conti falando justamente sobre esse lançamento de "O Caminho Para Wigan Pier" (1937) e também sobre os outros dois livros "Na Pior em Paris e Londres" (1933) e "Homenagem à Catalunha" (1938). Essa trilogia é a obra documental da experiência vivida por Orwell durante a década de 1930 quando este, seguindo suas ideologias socialistas, decide largar uma vida confortável em Londres para viver entre a classe operária de forma a obter um melhor entendimento dessa relação entre a luta de classes. Ele percorre então um caminho que o leva a conviver com mendigos parisienses, mineiros ingleses e soldados revolucionários espanhóis. Sobre essa trilogia, poupo-me do trabalho de escrever sobre ela e, para quem quiser saber mais, deixo no final desse post o link para a matéria da Piauí que está excelentemente redigida.


Meu ponto de reflexão sobre isso, além da incontestável satisfação de ver certas obras de Orwell voltarem a ser publicadas 60 anos após sua morte, é pensar sobre como o início do século XX foi tão prolífico com um tipo de literatura documental ou que, mesmo ganhando um caráter fictício, acaba por retratar experiências e reflexões de escritores que se colocaram em determinadas situações para dar a seus espíritos e a sua escrita uma dimensão superior que somente quem respira a tragédia e a aflição da privação alheia por direitos e oportunidades pode entender. Não só Orwell lutou na Revolução Espanhola, mas também Ernest Hemingway. Dessa experiência, o notório escritor norte-americano baseia-se para escrever um de seus mais celebrados romances, "Por Quem Os Sinos Dobram" (1940). Antes disso, na primeira década do século XX, o também norte-americano Jack London aventura-se de norte a sul e leste a oeste pelos Estados Unidos e Canadá, vivendo a maior parte do tempo por entre andarilhos e mendigos e, tendo adquirido toda essa bagagem de vida, escreve obras baseadas em suas aventuras e sua própria visão política (socialista). Dos tempos da corrida do ouro na parte norte do continente escreve "Chamado Selvagem" (1903) e "Caninos Brancos" (1906) e, após trancafiar-se em uma biblioteca em Nova Iorque por alguns meses e efetivamente se converter ao socialismo, escreve livros que expõe sua opinião política como "The Iron Heel" (1908).


Esse é um tipo de literatura que infelizmente torna-se cada vez mais raro nos dias de hoje. Tanto intelectuais quanto jornalistas, ou não tem a coragem e o ímpeto de se colocar em situações limite para tentar tirar disso um maior entendimento da realidade, ou senão falta-lhes o talento e a sagacidade para converter certas experiências em uma obra documental ou ficcional de qualidade. Mas eu ainda aposto minhas fichas na primeira teoria e na acomodação dos intelectuais modernos. Naquela época o espírito do homem era instigado a ir até onde a ação se desenrolava, pois não havia outro recurso para se entender ou acompanhar determinada situação senão estando-se in loco ou acompanhando as notícias de jornal e rádio, anoréxicas em detalhes e vivacidade. Nos dias atuais, basta-nos ligar a televisão na CNN ou acessar alguns sites de notícia na internet e pronto, lá estamos nós no campo de batalha. Mas o que realmente aniquila com essa arte literária é mesmo o fato de nossa sociedade ter se tornado muito mais visual do que a 50 anos passados. Mesmo que alguém se proponha a enfrentar uma dura realidade do campo de guerra ou dos campos de refugiados na África, tendo essa pessoa o ímpeto de documentar tal experiência, ela acabará por optar por apresentar essa realidade na forma de fotos ou de algum filme documentário. A percepção que nós temos é a de que uma história contada através de imagens (filme ou fotos) será mais contundente e eficiente na hora de atingir um determinado público. Também não há como negar que um filme certamente atingirá um público maior do que um livro. O cinema documental, por mais importante que seja, acaba por indiretamente contribuir para a lenta morte da literatura e/ou ficção documental.


A perspectiva de um amanhã negro já recai sobre nossa sociedade. Posso estar mal informado, mas o último livro escrito sob essa premissa de ficção documental que eu me lembro que tenha ganhado destaque nas prateleiras da livrarias, foi o livro da Bruna Surfistinha. O século XXI é assentado por sobre um terreno mais fértil do que em qualquer outro momento da história do mundo no que diz respeito a guerras, perda de valores, corrupção e crises humanitárias. Orwell havia descrito um futuro negro que era a imagem distorcida e amplificada de seu presente, mas aposto que nem mesmo ele poderia esperar que 26 anos após 1984, o mundo pudesse estar numa situação ainda mais drástica. E o que é pior, com uma crescente escassez de autores capazes de denunciar criativamente as aflições de um novo século.


Para ler na íntegra a reportagem da Piauí sobre George Orwell, visite o site: http://www.revistapiaui.com.br/edicao_42/artigo_1265/De_uma_classe_a_outra.aspx

Para mais informações sobre George Orwell, visite o site Duplipensar, dedicado à principal obra do autor, "1984": http://www.duplipensar.net/george-orwell/index.html

Para mais informações sobre qualquer um dos livros citados, é só clicar em cima deles que o link o redirecionará para a respectiva página no website da Livraria Cultura.

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Colhendo Eleições

A temporada de caça está quase aberta: eleições gerais no Brasil!
Minha única dúvida é sobre quem é a caça e quem é o caçador. Será que o povo é quem estará caçando um novo presidente e novos parlamentares? Ou será que são os políticos quem estarão à caça de cada cabeça, digo, de cada voto do povo? Esse processo não deveria ser denominado corrida, mas sim caçada eleitoral. A cabeça de cada político e de cada cidadão estará a prêmio pelos próximos meses. Os únicos que estarão a salvo desse massacre são os menores de 16 anos e os idosos. Mas engana-se quem acha que estes inocentes cidadãos sairão incólumes dessa caçada. Ninguém escapa sem ferimentos! Todos são alvejados, mesmo que de raspão, pela propaganda política. Seja pelos carros de som que disparam incessantemente rajadas de promessas ruídas ou ruídos políticos pelas ruas da periferia. Seja pelo temido e pertubador...
Interrompemos este post para a apresentação do horário eleitoral gratuito!


E é aqui que a disputa eleitoral ganha toda uma nova esfera. A esfera espiritual. É a hora da caça aos fantasmas! O horário eleitoral corresponde à infame hora morta, a hora em que o submundo espiritual invade a esfera dos mortais. É quando toda a sorte de promessas de mundos do além invadem as residências, transformando aparelhos de televisão em verdadeiros instrumentos malditos. Confesso que não me intimido com assombrações. Afinal de contas, até mesmo os fantasmas tem um discurso coerente, uma meta de sustos fixada e você sabe que de você eles só tomarão mesmo alguns gritos e cumprirão sua promessa de te arrepiar. Mas os poltergeists de terno e gravata são criaturas zombeteiras que fazem falsas promessas e te fazem acreditar em suas boas intenções. Mas de fantasminha camarada, só mesmo o Penadinho e, quando você menos esperar, todo o azar de monstros políticos irá te atacar e seus (de)feitos te darão sustos em casa, no trabalho, no supermercado, no trânsito e no banco. E quando você acreditar que se livrará dessa tormenta ao final de 4 anos... ELES VOLTAM!


E nessa hora, para quem você irá ligar? Caça-fantamas? Eu vou ligar é para o Enéas! Imaginem aquele espírito pálido, barbado e com aqueles grandes óculos aparecendo no televisor dos candidatos à meia-noite gritando esganiçadamente: - Você tem dezessete segundos!



Se democracia fosse algo sagrado, não seria uma palavra começada em "demo".

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segunda-feira, 29 de março de 2010

Colhendo Notícias Absurdas

Segunda-feira, 29 de março de 2010

Bairro de Sorocaba vai a leilão na quarta-feira

Esta semana, na cidade de Sorocaba, o Banco do Brasil colocará a leilão um terreno sobre o qual existe um bairro com 330 residências, cinco igrejas, uma escola, um campo de futebol e seis estabelecimentos comerciais. A lógica do processo, se é que ainda se consegue tirar alguma lógica de tal situação, é a seguinte:

1976 - a prefeitura doa a área de 76 mil metros quadrados a uma empresa. No entanto, no terreno havia um posseiro que fez do terreno um sítio;
1978 - a empresa faz um acordo com o posseiro e permite que este continue por lá. No entanto, coloca o terreno como garantia de um empréstimo que fez junto ao Banco do Brasil;
1983 - a empresa vai à falência, o banco executa a dívida e coloca o terreno a leilão. No entanto, não há lances e o terreno continua sob os cuidados do posseiro;
1989 - o posseiro entra com pedido de usucapião e começa a vender lotes. A prefeitura instala rede de luz, água e esgoto e começa a cobrar impostos;
2010 - devido a uma ação de falência que tramita no Fórum de Osasco, o terreno é novamente colocado a leilão. No entanto, existem 2000 pessoas morando no local que serão despejadas caso a ação se concretize!

Este pode não ser o tema mais instigante do mundo, mas entre tantas notícias cotidianas, essa manchete saltou-me aos olhos acompanhada do já tão certo sentimento de descrédito e da também habitual série de questionamentos. Como se pode confiar na administração de uma prefeitura que sequer tem mantida regulamentada a própria extensão e loteamento de seu município? Como se justifica a cobrança de impostos sobre um terreno não oficialmente regulamentado? Como se dá uma autorização para a implementação de rede de saneamento básico num terreno que está sob ação litigiosa? Mas entre tantas perguntas, há uma que me incomoda de sobremaneira: como um processo pode perdurar mais de 25 anos sem prescrever? O que assusta não é a incompetência das autoridades municipais. O que assusta é a maneira como o processo jurídico no Brasil pode ser manipulado tão facilmente quando há um interesse financeiro maior esquivando-se pelas trincheiras dos meios legais, alimentando-se incesantemente das brechas de códigos ultrapassados e do maldito jeitinho brasileiro.

A democracia brasileira é fundamentada em 3 pilares. Se o legislativo está capenga há mais de trinta anos; se o executivo, há mais tempo ainda, já desabou; e se o judiciário é um grande show de ilusões com direito a truques, desaparecimentos e mandatos tirados da toga; o que ainda sustenta esse país? Só mesmo se forem os trios elétricos da Bahia e os quadrados mágicos da Seleção.

Se esse povo ficará ou não com as suas casas, não é importante. O que importa é que o Brasil será heptacampeão! E mesmo que fiquem desabrigados, ainda haverá consolo numa taça de ouro para tolos e na certeza do um novo Carnaval.

Eita carnaval que nunca passa!

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Colhendo Músicas



Antrabata - Miss Encyclopedia

Para inaugurar a sessão "Colhendo Músicas", apresento um grupo francês chamado Antrabata. O trio lançou seu segundo cd "Dark & Bright" no ano passado pelo selo Prikosnovénie. Segundo os integrantes da própria banda, o estilo desse projeto, tal qual seu primeiro ("Elephant Reveries" de 2007), é um "trip-hop panorâmico e cintilante", integrando elementos de down beat, electro e também folk. Não é possível posicionar o estilo do trio precisamente, sendo que estes trabalham suas músicas sob influências que transitam por diferentes movimentos ao longo de 4 décadas distintas. Os membros do grupo, Femke, Delphine e Gaële, citam uma extensa lista de influências que vão desde o psyche/folk dos anos 60 e 70 como Pink Floyd e Led Zeppelin, indo ao cold wave dos anos 80 com The Cure e Joy Division, passando aos ícones do trip-hop Portishead e Massive Attack da década de 90 e chegando aos anos 2000 bebendo do electro de bandas como Burial e Boards of Canada. Ouvir qualquer um dos dois álbuns do Antrabata é uma experiência que garante ao menos um momento de rejúbilo para fãs de quaisquer um dos movimentos acima citados como influências da banda. Para aqueles que, tal qual quem vos escreve, é um entusiasta da fusão entre diferentes estilos, esse grupo francês representará uma deleitosa descoberta.

Para ouvir mais músicas do Antrabata, acesse o Myspace oficial da banda: http://www.myspace.com/antrabata

Para mais informações e também para comprar os álbuns, acesse o site da banda na página oficial da gravadora Prikosnovénie:

Apóie suas bandas favoritas! Compre pela internet cds originais de selos non-mainstream como a Prikosnovénie! É muito barato e você apóia diretamente as bandas!

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